quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

One of Us

Creio que a música seja boa se o parâmetro for um conceito geral de pop.
A letra também é interessante e sempre me faz pensar em "ses".
Performance de Joan Osborne, escrita por Eric Bazilian.
Não precisa gostar, mas feche olhos, escute, navegue.
Depois ouça de novo, com olhos abertos para ver o que a letra diz.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Individual, apenas?

Ser feliz é o objetivo de muitas pessoas que vivem em nossa sociedade. De certo, também a visão de felicidade não é igual para todos, mesmo que um ou outro tenha certa similaridade. Mas uma pequena questão pode surgir ao se pensar em felicidade. Seria um estado? Um sentimento? E tratando-se de um sentimento, seria exclusivamente pessoal ou pode ser compartilhado? E sobre questões maiores? É possível ter felicidade plena no mundo de hoje?

Tantos questionamentos,obviamente, podem obter variadas respostas. E isso pode se tornar parte de um problema. Podendo tal estar nas pessoas que não aceitam e convivem bem com um sentimento que as acompanha desde seu nascimento: a solidão da individualidade. Essas pessoas, por não conviverem bem com esse sentimento, podem responder aos questionamentos dizendo que sua felicidade depende do outro. Então colocam em outras pessoas a realização de seus anseios. Quem faz isso esquece a responsabilidade que o outro sujeito tem por si e por seus próprios desejos. Certamente não vislumbraram que alcançar sua felicidade depende, em grande parte, de tal entendimento de individualidade solitária.

Outros podem completar tal idéia dizendo que a felicidade, em sua total, digamos, maturidade, é, antiteticamente, também um sentimento coletivo e deve ser compartilhado. Dizem isso, pois o simples fato de conversar, animar ou tentar fazer o outro feliz é uma grande alegria para essas pessoas, elas acreditam que dividindo problemas e pesares é ter metade das aflições. Sendo assim, um exemplo de iniciativa são os doutores da alegria espalhados pelo mundo. Um gesto aparentemente pequeno de levar alegria e colher sorrisos, mas que dá alento a quem sofre num leito de hospital.

Talvez chegar a uma resposta para a felicidade plena é quase impossível. Ou se encontrada tal plenitude por alguém dificilmente servirá de parâmetro ou receita para outro alguém. Afinal, ser feliz implica em sentimentos profundamente pessoais, cada um busca a felicidade de uma maneira diferente. Primeiro, bom seria, nos conhecermos, entendermos nossa individualidade e buscarmos, em nossa livre solidão, equilíbrio próprio para assim compartilhar a felicidade com quem está próximo de nós. Compartilhar apenas. Ousadamente pode-se dizer que nada seria melhor para a humanidade se tivéssemos mais pessoas preocupadas em entender-se e dividir sua felicidade, ao invés de buscá-la para exclusivamente satisfazer a si.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Capítulo XXI

Poderia esperar, mas...

Ler alguns livros pode ser algo simples. Enquanto outros a leitura acaba sendo uma tortura. Um talvez "Capitães da Areia" aqui, um "A célula" ali, ou quem sabe um "Além do bem e do mal" lá. Ler Amado, Alberts e Nietzsche éuma experiência única e também diversa de acordo com cada autor. Deve-se notar ainda a forma diferente de cada um olhar, escutar, sentir e interpretar cada obra. Sabendo que uma delas, muito provavelmente, tenda a ter uma única interpretação.

Em todas essas obras e muitas outras, sempre (ou quase sempre para alguns) há o capítulo mais marcante. Aquele que lemos e parece nunca sair de nossa cabeça a ponto de, quando lembramos do livro, sempre recordamos as passagens daquele espífico capítulo. Dentre as muitas leituras que já fiz, as quais definitivamente ainda acho poucas, um dos capítulos mais marcantes foi o XXI do Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry. Certamente muitos já o leram, se gostaram ou não, é quase inegável não perceber certos conceitos relacionados aos sentimentos e relações humanas, muitas das quais parecem desaparecer cada vez mais, pela perda de alguns comportamentos, como bem sinaliza a raposa.

Divido abaixo o capítulo com vocês. Apesar de saber que muitos já o fizeram na net... Acredito que alguns tipos de repetição valem a pena. Além do mais há quem discorde de alguns ditos, talvez porque o olhar caiu sobre as literais significações de certos termos, onde novamente entramos no olhar e sentimento de cada um em relação ao texto e palavras.

***

E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho - Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem - Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços”.
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo ...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração ... É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela é agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Ninguém ouviu? Nenhuma pessoa escuta? Alguém perceberá?

A origem da palavra trabalho não é a das mais animadoras. No Brasil, o “tripalhum” parece ser seguido de forma literal. Em virtude do que configurou-se tal situação para o trabalhador brasileiro? Não seria exagero dizer que ainda existe trabalho escravo em nosso país?

Primeiramente, se analisarmos a história do Brasil, veremos um quadro progressivo de sofrimento do labutador. Os portugueses invadiram as terras tupiniquins, catequizaram os índios, automaticamente, escravizaram-nos. Os negros retirados de sua terra mãe sustentaram, através da torpe escravidão, a coroa portuguesa. Mesmo alguns revoltosos, e os inconfidentes tentando ajudar na mudança, quase nada de concreto, que alicerçasse sua liberdade, conseguiram.

Desse modo formou-se a história do trabalhador brasileiro. Hoje, mal se nota a mudança. Principalmente diante do painel nas lavouras de cana-de-açúcar, onde bóias-frias, por excesso de trabalho, sofrem birola ou morrem por exaustão. As crianças ainda são encontradas nas minas de carvão, nas roças, nas ruas vendendo bala, ao invés de estarem na escola, embora não seja certo, aí, o aprendizado da cidadania. Ademais, existem os "gatos", os contratadores de empreitada, responsáveis pela “seleção” de mão-de-obra para determinados fazendeiros. Esses “profissionais” contratam as pessoas para os mais diversos trabalhos agropecuários, como derrubadas de matas nativas para formação de pastos, preparação do solo para plantio de sementes, entre outros, e servem de fachada para que não recaia sobre os fazendeiros a criminalidade de seu aliciamento a tais contratados. Afinal, essas pessoas contratadas não têm direitos trabalhistas básicos.

Inclusive, há um pacto nacional pela erradicação do trabalho escravo, cuja missão se intitula: “Implementar ferramentas para que o setor empresarial e a sociedade brasileira não comercializem produtos de fornecedores que usaram trabalho escravo”. No entanto, basta uma pesquisa básica na Internet em qualquer site de busca para ver que o quadro brasileiro é bastante preocupante. Isso porque o Ministério do Trabalho e Emprego listou duzentos e noventa e quatro empresas e pessoas físicas que praticam trabalho escravo no Brasil. Tal lista iniciou-se em 2004 pelo ministério, valendo lembrar, ainda, que a lista é atualizada, pelo menos, a cada seis meses e os nomes são mantidos por dois anos. Talvez alardear quais empresas praticam tal abominação seria um forma de fazê-los, pelo zelo aos seus próprios bolsos, mudar ou diminuir suas práticas. Ou não?

É importante ressaltar que a escravidão moderna não é uma situação exclusiva do meio rural, afinal, nas aéreas urbanas o panorama também é similar. Nisto o exemplo mais visível está na região metropolitana de São Paulo, onde imigrantes ilegais, principalmente bolivianos, outros latino-americanos e até asiáticos trabalham muito mais que quarenta horas semanais, sem direito a folga e com baixíssimos salários, geralmente em oficinas de costura da grande megalópole. Além disso, o Paraná possui quinze empresas na lista de trabalho escravo do Ministério do Trabalho e Emprego, sendo que onze figuram pela primeira vez no relatório. Entre as citadas estão fazendas e madeireiras, principalmente da região Sul do Estado. Semelhantemente, na Bahia são cerca de dez fazendas, na lista suja do ministério, realizando essas atividades escusas. Regularização de imigrantes? Multas aos fazendeiros e empresas? Seriam soluções?

Enfim, o que se vê é a tortura continuada e a maioria de nós nem nota, ou dá atenção a degradante situação dos trabalhadores brasileiros. Alguns se resignam, às vezes, sem escolha, a subempregos e salários ínfimos. Outros prosseguem na escravidão. E a voz firme de Clara Nunes resume o quadro: “E ecoa noite e dia, é ensurdecedor. Ah! Mais que agonia o canto do trabalhador. Esse canto que devia ser um canto de alegria soa apenas como um soluçar de dor”.

Será, mesmo, inaudível esse lamento tão estrondoso?


***

Links para a lista suja:

http://portal.mte.gov.br/portal-mte/
http://portal.mte.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=FF8080812D37E16B012D4CD52AAC1A01


E um pouco do muito de Clara Nunes: