sábado, 4 de fevereiro de 2012

A licença do mendigo

por Naiana Freitas

Um dia desses sentou ao meu lado um mendigo no ônibus. A princípio, pensei esse cara pode me assaltar. Aliás, tenho pensado nisso quase sempre quando sinto alguém muito próximo de mim. É a paranoia urbana. Mas, o "cara" sujo e roto foi bastante educado com todos no ônibus. Como o traje tornou-se um marcador social, obviamente percebi que ele vivia na rua, porque estava sujo e descalço. É claro, que ele não tinha um bom cheiro. Mas, tem gente que tem casa e tem mau cheiro também... É menos compreensível aceitar um mau cheiro de quem pode não ter do que um mau cheiro de quem não pode evitar. Lembro muito bem, que todos que passavam por mim, olhavam assim: essa menina deve ser louca, sentada ao lado de um cara assim não cheiroso. Acredite, eu fiquei mais constrangida por tanta interrogação ao meu lado do que com um possível roubo. Por fim, seguindo minha boa religiosidade inventada preferi continuar sentada ao lado do mendigo. Pelo simples motivo, não gostaria que nenhum humano levantasse para sentar em outro lugar por me considerar suja, pobre e desarrumada. Depois, parece que o mendigo chegou ao seu destino e para levantar me pediu licença. Ato raro daqueles que tomam banho todo dia.

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