Faladeira, insistente e enrugada. Essas são as três características que muitos pacientes dizem ela ter. Os recuperados, outrora moribundos debilitados, falam da velha com estranheza e ao mesmo tempo cheios de grande gratidão. Ressaltam a habilidade da velhinha de olhos esmeralda em andar velozmente na sua cadeira de roda, dirigindo pelo hospital, para visitar pacientes.

Pois bem, os menos adeptos a esse constante vagar preferem a história mais recente, na qual ela, sendo ele, é ele, todavia não um ele senhor, mas um ele jovem, moderno, cheio de vida. Especificamente, é um rapaz negro, de paletó e gravata, todo impecável e decidido, porém ele não deixa de ressaltar sua negritude, além da sua cor. Afinal adota uma cabeleira black-power. Quem o vê, logo contagia-se por seu viver. Sabem que pra ele, mesmo com qualquer barreira, tudo será possível. Simplesmente por sua atitude. Ele mostra: realizo e atingirei meus objetivos, cedo ou tarde, com batalhas, derrotas, vitórias, preconceitos ou aceitações. Ele conhece os caminhos diversos da vida, de como ela se renova o tempo todo, às vezes para pior, outras pra melhor. O importante ele diz: "É sempre buscando o melhor, mesmo no pior".
Talvez por considerarem tais palavras um monte de asneira, alguns escolhem se adequar à história, bela é verdade, de um certo senhor. Nela esse rapaz, é na verdade uma meninazinha de olhos muito, muito verdes. Inteligente, muito tagarela, além de demasiadamente hiperativa. Preferem essa história porque a alegria da criança associada a sua essência é muito agradável de sentir. Já outros vão dizer, pessoas chateadas e tendentes ao tédio, que essa menina na verdade é uma louca e que não querem perder tempo para as verdades sinceramente constrangedoras ditas pela meninazinha. São verdades similares as de Estamira, que mesmo em momentos absurdamente insanos diz as mais límpidas e sinceras verdades.
Ah! Mas ousadamente posso dizer que a vejo de outra maneira. Vislumbro-a como uma moça. Toda riponga de saia cigana e camisa de projeto de extensão. Do tipo "tô nem aí", mas estando muito aí. Ela está, agora, deitada numa rede, tocando violão e cantando. Definitivamente pitorescos, são seus óculos escuros, com aros redondos. Destoam. Evidenciam-se. Percebo seu olhar por detrás dos óculos escuros. Estaria ela querendo disfarçar sua característica mais marcante, como quisesse esconder de mim quem é, sobre esses aros redondos fora de moda?

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