sexta-feira, 13 de julho de 2012

Logo ali, na esquina

Ele sempre viu o mundo. Bobo, o tocava e ouvia, de uma maneira diferente de muitos. De certo, tem um ar um tanto quanto sonhador demais, tolo para o mundo. Perdeu oportunidades, é notável, principalmente por conta do preconceito. Sua cor? Sua atitude diante da vida?
Engraçado vê-lo refletindo sobre isso num ônibus lotado. Realmente é de assustar um pouco seu ar longe, em meio a tantos sons, conversas e ruídos. É caos urbano, alguns dizem.
Distancia-se um pouco de si e observa. O ônibus para em um engarrafamento. E logo ali na esquina vislumbra um marginal qualquer apontando uma arma para uma mulher. Ela parece ser forte (fria até) para o momento. Por um momento ele se apaixonaria por ela, devido a tão peculiar comportamento diante da fatídica e constante violência citadina. Mas, por outro lado, ele se invade de terror, pois o ladrão atira na moça, quando ela tenta reagir. A blusa branca da jovem torna-se escarlate, num tom de clímax de vida. De morte. Surpreendo-me então por ver em meio a todo o povo escandalizado, que ele, diferente de todos, volta a ficar pensativo. Descubro seu pensar nas esquinas da vida.
Talvez não só a morte esteja lá, afinal sua onipresença já é conhecida. Por certo ele lembra, ao longe, de entrever o amor na esquina da rua. Sim, o amor dos jovens namorados no portão da casa da menina. Quase se poderia declarar que esse amor está na intensidade do beijo (bem de novela), na força do abraço, ou no inflamar das carícias apressadas e cheia de adrenalina, mas não. Ele vislumbrou o amor sincero e intenso do olhar, de dois jovens enamorados. E no olhar, quase todos são sinceros. Ele duvida.
Quem sabe o desprezo de muitos pelas esquinas residam nas manifestações culturais-religiosas, nos bozós, na felicidade dos foliões no Carnaval, nas festas de rua nos interiores. Ah! Ele vê a esquina como o lugar da amada da adolescência, aquela menina cheia de charme e malemolência, que todos os rapazes ficavam embasbacados ao vê-la passar. Também talvez goste de esquinas, por que estas o lembram da velha engraçada e risonha que contava histórias pra meninos. Quem sabe ainda não se lembre das mulheres fofoqueiras e felizes nos bairros periféricos, que fofocam e atentam suas crianças brincarem, na rua, não em frente a telas cheias e, ao mesmo tempo, vazias.
Possa ser: na próxima esquina ele vai vislumbrar outro clímax da vida. Talvez eu não consiga ter tamanha reflexão, mas preciso ficar atento, afinal um belo e positivo momento pode acontecer no próximo cantinho da vida. Então, lembrarei-me dele, feito do amor, e agarrarei com toda a força, se o momento for único e positivo. Quem sabe assim não alcanço um pouco dessa paz de espírito, no olhar desse bobo.

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